Exposição “Fogo Cerrado”

Individual de Sebastião Silva

Aproveite o passeio virtual pela exposição, que comemorou os 49 anos da Universidade Federal de Mato grosso.

Sebastião Silva

Pintor e objetista, Sebastião Silva é um dos “meninos do pedregal” que frequentava o Ateliê Livre da UFMT desde 1980.

Primeira Grande Exposição Individual

O artista plástico Sebastião Silva inaugurou no Museu de Arte e de Cultura Popular (MACP/UFMT), no dia 26 de novembro de 2019, sendo um dos grandes destaques da agenda comemorativa dos 49 anos da Universidade Federal de Mato Grosso. “Fogo Cerrado” foi sua primeira grande exposição individual e contou com curadoria da crítica de arte Aline Figueiredo, reunindo uma série de novas obras do artista que giram em torno da temática ecológica e que possuem um tom de denúncia sobre as derrubadas e queimadas das matas, a poluição do solo, ar, rios e as apropriações indevidas das terras indígenas. Resultado de experiência com materiais e suportes como madeira, cinzas, carvão, folhas, serragem, entre outros, as esculturas e telas produzidas por Sebastião Silva  exprimem uma crítica social e promovem uma reflexão sobre problemas ambientais que se tornam cada vez mais relevantes no mundo atual.

O Menino do Pedregal

Sebastião Silva. Foto: arquivo pessoal do artista.

Sebastião Silva é um dos “meninos do pedregal” que frequentaram o Ateliê Livre da UFMT desde 1981. Na época com apenas 12 anos o artista conviveu com a crítica de arte Aline Figueiredo e com artistas como Nilson Pimenta aproveitando a riqueza do ambiente para aperfeiçoar sua técnica artística ao longo dos anos.

“O artista considera três fatos importantes na sua vida: o Ateliê Livre da UFMT, o curso de História na UFMT, e o contato com a natureza no sítio de Jangada. A rodovia que corta o município de Jangada com caminhões cheios de toras, atestam o tráfego e o tráfico de madeira que há muito assola este velho Mato Grosso, são memórias de sua infância que agora estão vindo à tona.” Aline Figueiredo.

Creio que o trabalho de Sebastião Silva é um desses picos da arte mato-grossense. Além do talento, nos apresenta qualidade técnica e inventividade, sempre na reflexão da crítica social, uma característica de nossas artes plásticas. Refletindo o momento, pela circunstância toda, pelos problemas dos incêndios, da devastação das florestas, o tema reatualiza sua universalidade e está presente em todas as mídias, mundialmente. Está também presente no ateliê de Sebastião Silva já há algum tempo, porque sendo uma pessoa de sítio, convive com a natureza e participou de todos esses fenômenos: queimadas maiores, menores, talvez até queimadas ingênuas que no passado só se usava para adubar a terra.

O artista apresenta um trabalho que nos associa imediatamente a uma arqueologia, pois ele desenterra fragmentos para obter matéria prima para sua expressão. É um artista que vem dessa experiência, sempre observador, reparando nos objetos, sobras de madeira e raízes. Sempre gostou de cavucar paus enterrados e descobriu formas incríveis ao revelá-las, acariciá-las, e de certo modo, moldá-las através de uma lixa, uma plaina, sentindo ali uma sensualidade melhor para o tato de suas mãos. Enfim, um trabalho muito tátil também, além da visualidade.

Começou a pintar inspirado na cultura popular, a princípio violas de cocho, depois as violas de cocho se transformaram em corpos femininos, e agora voltaram à sua própria essência, raiz, àquilo que é a sua matéria prima, a madeira. Assim ele foi se achegando à madeira, numa associação da madeira/arte como suporte de pintura, até à redescoberta da madeira que ele tinha no seu sítio, separando objetos, paus, troncos, serragens, folhas e toda sobra que encontrava. Mas não ficou aí, abriu um leque de comentários sobre os crimes ambientais nos contrapontos do seu trabalho. Pois também nos relembra a floresta em sua exuberância. Atualmente Sebastião Silva faz graduação em história na UFMT, sua velha e conhecida instituição referência. Ali se encontra o Ateliê Livre frequentado por ele e outros jovens pré-adolescentes dos arredores que acabaram entrando para a história como “meninos do Pedregal”. Naquela ocasião a Universidade deu um carinhoso acolhimento ao bairro do Pedregal, que revelou importantes artistas como Adir Sodré e Nilson Pimenta, entre outros, e o próprio Sebastião Silva, ainda residente nesse ex-subúrbio que se agigantou na Cuiabá moderna.
Humberto Espíndola.

Amanda Gama, Humberto Espíndola, Aline Figueiredo, Rubens Florêncio, Thania Arruda, Ruth Albernaz, Willian Gama e Sebastião Silva. Foto: Maurício Mota.

Verbete

Entre outras, participou das coletivas: Momentos da República na Arte Mato-grossense, 1989; Revisitando o Ateliê (1999); Artistas do Século (2000); Projeto Labor (2005), Percurso (2014), todas realizadas no Museu de Arte e de Cultura Popular da UFMT. Participou também dos XI, XII, XXV Salão Jovem Arte Mato-grossense (1990/1991/2016); por ocasião do lançamento do livro Arte aqui é mato, de Aline Figueiredo, participa da coletiva do mesmo nome realizada no Museu de Arte de São Paulo (MASP, São Paulo) e no Museu de Arte Brasileira (Brasília), ambas em 1991; Bienal Naïfs do Brasil (Sesc Piracicaba, SP, 1994 e 2000); O Divino na Visão Ingênua (Sesc, Piracicaba, SP, 1995); Naifs do Brasil (Galeria Sesc Paulista, São Paulo, SP, 1998); Pintando Cuiabá (Secretaria Municipal de Cultura, Cuiabá, 1998); Tradição e Arte Cuiabana (Palácio da Instrução, Cuiabá, 2002); Brazilian Naïfs Art From The Sesc Collection (Chicago, EUA, 2006); Projeto Gol Pintou a Copa em Cuiabá (Arte Pública, Cuiabá, 2010); Mostra Inaugural (Galeria Mirante das Artes, Várzea Grande, MT, 2014). Individualmente expôs na Fundação Cultural de Mato Grosso (Cuiabá, 1989); Filtrando Formas e Cores (Museu do Morro da Caixa D’Água Velha, Cuiabá, 2010).

Entrevista TVU da UFMT

Entrevista com Thania Arruda e Humberto Espíndola, membros da equipe de Coordenação
Montagem e Expografia da exposição.

Visite a exposição (tour virtual)

Fotos: Rai Reis.

Selo de 49 anos da UFMT. Autor: Maurício Mota.

MEIO SÉCULO DE VIDA SOB FOGO CERRADO

Sebastião Silva

Em 2019, Cuiabá, minha terra natal, completou três séculos de fundação, eu, meio século de vida. Coincidentemente, neste mesmo ano, aguardo com expectativa o que considero a minha primeira grande exposição individual – Fogo Cerrado.

Considero o evento necessário e oportuno devido às questões ambientais terem retornado sob fogo cerrado aos debates, desencadeando uma polarização entre direita e esquerda, similar aos da década de 1950. Atualmente a luta é pela manutenção da economia do bem-estar social e da democracia. Enquanto isso, sentimos e assistimos a contínua degradação do orbe, habitat de todos os seus partidários.

Três ecossistemas ainda promovem a singular beleza do Estado de Mato Grosso – Cerrado, Pantanal e Amazônia. Longe de ser o “espetáculo tan bello”¹ capaz de ter encantado Bartolomé Bossi e outros na segunda metade do século XIX, o pouco que ainda nos resta da natureza resiste, apesar dos conceitos ocidentalistas de antes, que permanecem ainda mais vorazes nos projetos “desenvolvimentistas” de mundo. Até quando?

Derrubadas e queimadas das matas, poluição do solo, ar e rios, apropriações indevidas das terras indígenas, são alguns dos temas de reflexões desta exposição,municiada de poesias visuais, propondo uma ofensiva aos que continuam mazelando o meio ambiente. Para tanto, nos últimos anos dediquei a pesquisar e fazer experiências com materiais e suportes encontrados na região, que até então não faziam parte dos meus trabalhos artísticos, principalmente a madeira. Através delas esculpi, queimei, pintei, recortei e colei, assim como, usei suas cinzas, carvão, folhas, serragem, com o objetivo de abordar as questões ambientais em novas poéticas.

É fogo cerrado em defesa da democracia! Fogo cerrado em defesa da cidadania! Fogo cerrado em defesa da vida na Terra! Fogo cerrado em defesa da liberdade! Fogo cerrado em defesa da história! Fogo cerrado em defesa da UFMT! Fogo cerrado em defesa do Cerrado, do Pantanal e da Amazônia! Vivendo desde sempre “diante da exuberância da natureza, como não defendêla?”², já interrogava a crítica de arte Aline Figueiredo, grande estrela guia.

¹ Galetti, Lylia da Silva Guedes. Sertão, Fronteira, Brasil: Imagens de Mato Grosso no mapa da civilização / Lylia da SILVA Guedes Galetti. – Cuiabá, MT: Entrelinhas: AdUFMT, 2012. Pág 106.

² Figueiredo, Aline – Arte aqui é Mato / Aline Figueiredo, Cuiabá, UFMT, 1990. Pág 12.


Arte de divulgação da Exposição

Agenda Especial de Aniversário de 49 anos da UFMT


Fogo Cerrado

Aline Figueiredo

Fogo Cerrado é o título da mostra individual do artista Sebastião Silva, que se apresenta no  Museu de Arte e de Cultura Popular(MACP) da Universidade Federal de Mato Grosso(UFMT) .  O Artista consegue nos convencer de que não há nada mais sério para ver, para pensar e para se considerar do que a defesa ecológica. A denúncia é o gatilho da agulha crítica do seu trabalho.  A liberação da prática conhecida como correntão, é um fato que materializa um grande retrocesso na preservação do meio ambiente.

Telas de grandes dimensões, desenhadas com carvão, enfocam enormes correntes usadas no desmatamento. Bem aproximadas, em close up, mostram a opressão total a ocupar o espaço formal. O artista dialoga e conceitua com a forma, com o espaço e com a técnica, o suporte da obra além da tela é também a madeira, testemunha do verde que se foi e do carvão que resultou.

Uma indústria americana de equipamentos agrários, utiliza em seu logotipo a figura de um cervo saltando para cima com toda sua força genésica. É incrível a ironia dissimulada da marca em utilizar a força e a agilidade do animal, para avançar no seu próprio meio ambiente.

Sebastião Silva, 50 anos, frequenta o Ateliê Livre da UFMT desde 1981 quando ainda estava com 12 anos. É um daqueles meninos pintores do Pedregal, bairro contíguo ao campus universitário. O artista considera Três fatos importantes na sua vida : o Ateliê Livre da UFMT, o curso de História na UFMT, o sítio de Jangada e o contato com a natureza. A rodovia que corta o município de Jangada com Caminhões cheios de toras, atestam o tráfego e o tráfico de madeira que há muito assola este velho Mato Grosso, são memórias de sua infância que agora estão vindo à tona.

Madeiras pintadas de amarelo e queimadas com maçarico, lembram a pele da onça e da fauna que se esvai. Cruzes formadas com projéteis de balas são tristes paisagens literalmente feitas de cinzas e carvão. O artista experimenta uma vontade objectual e alguma inquietação escultórica a envolver toras e correntes.

É fogo cerrado na Amazônia! A falta de fiscalização promove o desmatamento, que promove o fogo que promove o tráfico a desagregação do índio e a cruel devastação do meio ambiente. A obra de Sebastião Silva é um contra-ataque crítico a tal procedimento. Democracia e liberdade é um modo de pleitear a cidadania.

Aline Figueiredo, curadora e organizadora da exposição.

Galeria


Catálogo

Catálogo da Exposição “Fogo Cerrado”.

Processo da Montagem


Ficha Técnica da Exposição “Fogo Cerrado”

Individual
Sebastião Silva

Organização e Curadoria
Aline Figueiredo

Coordenação, Montagem e Expografia
Amanda Gama
Humberto Espíndola
Rubens Florêncio
Thania Arruda
Willian Gama

Design Gráfico
Maurício Mota

Colaboração
Anderson Nunes Ortiz
André Balbino Ferreira
Entrelinhas Editora
Fernando T. M. Borges

Equipe Executiva / Alunos UFMT
Andrews Fernandes Storque – Arquitetura e Urbanismo
Ingrid Stefani Bonfadini Senha – Arquitetura e Urbanismo
Maria Eduarda Cardoso Passos – Psicologia
Sebastião da Silva Nascimento – História


Agradecemos sua visita! sinta-se a vontade para deixar um comentário, curtir e compartilhar esse link com amigos e celebradores da arte regional.

Deixe um comentário

Crie um site como este com o WordPress.com
Comece agora